Os Estados Unidos estão insolventes
Os Estados Unidos estão insolventes
por Chris Martenson [*]
Os EUA estão insolventes. Simplesmente não existe forma de as contas nacionais poderem ser pagas de acordo com os actuais níveis de tributação e de benefícios prometidos. Actualmente, os nossos défices federais combinados são superiores a 400% do PIB.
Esta é a conclusão de um recente relatório do Tesouro intitulado Relatório Financeiro do Governo de Estados Unidos (Financial Report of the United States Government), que foi silenciosamente divulgado numa sexta-feira (15/12/2006), submergido na temporada de férias, e com pouca fanfarra. Por vezes pergunto a mim próprio porque o Departamento do Tesouro não paga simplesmente a alguém para distribuir o relatório pelas quatro e meia da manhã de Natal. Acrescento que tenho ainda de apresentar uma simples conclusão deste relatório em uma qualquer das principais emissoras noticiosas, mas isso é outro assunto.
Mas, claro, eu percebo. Um relatório assim tão mau precisa de tudo o que possa amortecer o seu impacto.
Na sua declaração que acompanha o relatório , David Walker, inspector (comptroller) dos EUA, aqueceu a sua audiência ao declarar que o General Accounting Office (GAO) havia encontrado tantas deficiências significativas no sistema contabilístico governamental que não lhe fora possível "exprimir uma opinião" sobre o estado financeiro. Ah, ah! Ele realmente sabe como manipular uma audiência!
Em linguagem contabilística é o mesmo que dizer ao seu cônjuge "O nosso livro de cheques está numa tal bagunça que não consigo dizer se estamos falidos ou ricos!". Da próxima vez que você tiver uma inexplicável explosão de saques da sua conta, desde aquela pescaria com os seus amigos, diga-lhe apenas que você não pode "expressar uma opinião", e veja se isso cola. Vamos ver se isso funciona!
Então Walker deu as notícias realmente más:
Apesar da melhoria dos custos líquidos operacionais do ano fiscal de 2006, e do défice orçamental, o total das responsabilidades referidas pelo governo norte-americano, compromissos líquidos da segurança social e outros compromissos fiscais, continua a aumentar, totalizando agora aproximadamente 50 milhões de milhões (trillion) de dólares, representando cerca de quatro vezes a produção total do país (PIB) no ano fiscal de 2006, compromissos esses que foram de 20 milhões de milhões de dólares em 2000, ou seja, duas vezes o PIB desse ano fiscal.
Enquanto este desequilíbrio fiscal de longo prazo continua a crescer, as reformas da geração "baby boom" estão cada vez mais próximas, com a primeira onda de "boomers" a atingir a reforma antecipada da Segurança Social já em 2008.
Tendo em conta estes e outros factores, parece evidente que a actual trajectória fiscal da nação é insustentável, e que são necessárias medidas impopulares a serem definidas pelo Presidente e pelo Congresso, para corrigir o grande e crescente desequilíbrio fiscal de longo prazo do país.
Boa! Eu sei que ultimamente David Walker tem falado muito sobre a sua preocupação acerca do nosso futuro económico, mas parece quase impossível ignorar as implicações destas suas declarações. De 20 milhões de milhões de dólares de compromissos fiscais em 2000, para mais de 50 milhões de milhões de dólares em apenas seis anos? O que faremos nós quando dispararmos para…100 milhões de milhões de dólares?
E acerca do facto daqueles "boomers" começarem a aposentar-se em 2008...que parece estar muuuuito para lá no futuro? Porém, logo após o 1º de Janeiro começamos a referirmo-nos a 2008 como o "próximo ano", em vez de um qualquer "ponto num futuro demasiado distante para nos preocuparmos agora" . Os nossos problemas económicos precisam ser classificados como crescentes, iminentes, e insustentáveis.
E permitam que clarifique alguns aspectos. Os 53 milhões de milhões de dólares de défice são expressos como "valor actual líquido". Isso significa que para fazer desaparecer o défice, teríamos de ter aquela quantia de dinheiro no banco... hoje, a render juros (o GAO usa 5,7% e 5,8% como taxa de rentabilidade previsível a longo prazo). Volto a dizer: 53 milhões de milhões de dólares, no banco, hoje. Caramba, eu nem sequer faço ideia do que é 1 milhão de milhões de dólares quanto mais 53 vezes isso.
E no próximo ano teríamos que pôr ainda mais dinheiro nesta conta mítica, simplesmente porque não é possível obter juros de dinheiro que não depositámos este ano nessa conta bancária. Para que saibamos, 5.7% sobre 53milhões de milhões de dólares representam um pouco mais de 3 milhões de milhões de dólares. Assim se pode constatar como, relativamente a este aspecto, a matemática está a trabalhar contra nós. Isto significa que o défice aumentará pelo menos outros 3 milhões de milhões de dólares, mais alguns outros défices que o governo possa acrescentar entretanto. Sendo assim, considere mais 4 milhões de milhões de dólares como uma previsão para o ano que vem.
Dado a forma cuidada como este tema tem sido evitado pela nossa nação com o controlo do que tem vindo a luz nos principais média e durante a última campanha eleitoral, sinto-me por vezes como se vivesse numa pequena cidade de montanha que decidiu ignorar uma avalanche que já vem por aí abaixo, para garantir a venda anual de ski à classe infantil.
O Departamento do Tesouro minimizou tudo o que dizia respeito ao gigantesco e insustentável défice, mas no relatório do último ano já fizeram uma abordagem bastante diferente. Página 10 do relatório:
As responsabilidades líquidas da segurança social (benefícios que excedem os ingressos estimados) indicam que aqueles programas estão numa trajectória fiscal insustentável e serão necessárias tomar medidas difíceis para fazer face ao seu enorme e crescente desequilíbrio fiscal de longo prazo.
Atrasar a aplicação de medidas correctivas será dispendioso e as decisões serão mais difíceis de tomar à medida em que se for tornando real a proximidade da aposentação da geração "baby boom", com a primeira onda de "boomers" a atingir a idade de reforma da Segurança Social em 2008.
Não sei como isto poderia ter sido exposto de forma mais clara. O Departamento do Tesouro dos EUA emitiu um relatório público advertindo que estamos num caminho insustentável e que enfrentamos medidas difíceis, que serão tão mais dispendiosas quanto mais demorarmos a decidir.
Talvez a razão, que possibilitou que as obrigações e o dólar dos EUA se tivessem aguentado tão bem, é que nós somos de longe os únicos nesta situação. Num recente artigo detalhando as razões de vir a acontecer uma possível perda de valor da libra esterlina do Reino Unido, podemos ler esta terrível evidência:
Oficialmente, (o Reino Unido) a dívida líquida do sector público está em 486,7 mil milhões de libras. Isso é igual a 953,9 mil milhões de dólares e representa um pouco menos de 38% do PIB. Acrescentando porém, a dívida do estado "fora do balanço" – que inclui as pensões dos funcionários do estado – o total atinge um valor quase três vezes mais elevado. Uma pesquisa do Centro de Estudos Políticos em Londres conclui que isto poderia levar a dívida do Reino Unido a atingir o valor surpreendente de 103% do PIB.
Porém, se fizermos os mesmos cálculos para os EUA, descobrimos que a dívida oficial está em 8.507 mil milhões de dólares, ou seja, 65% do PIB (nominal), mas quando somamos os items que temos "fora do balanço", concluímos que a dívida interna se encontra nos 53 milhões de milhões de dólares, o que representa 403% do PIB.
Mas é algo verdadeiramente terrível, surpreendente. Pode-se classificar isto como se quiser. Mais de quatrocentos por cento do PIB (!). E apenas ao nível federal. Com facilidade poderíamos tornar esta história um pouco mais fúnebre se incluíssemos os défices estatais, municipais e corporativos. Mas não façamos essas contas.
Vejamos o que significa em termos simples o défice federal:
1) Não existe qualquer maneira de "superar este problema". O que ressalta disto é que a situação financeira dos EUA deteriorou-se em mais de 22 milhões de milhões de dólares em apenas quatro anos, e 4,5 mil milhões só nos últimos doze meses (ver o quadro abaixo, da página 10 do relatório). O problema não "melhorou" como resultado do excelente crescimento económico verificado nos últimos três anos, mas muito pelo contrário, piorou e aparentemente está aceleradamente a piorar.
Qualquer enfraquecimento económico só exacerbará o problema. Não nos devemos esquecer que os pressupostos orçamentais do governo dos EUA apontam para um crescimento nominal do PIB de 5% ao ano, pelo menos até 2011. Por outras palavras, porque não se considera qualquer fraqueza económica em nenhuma das projecções deficitárias apresentadas, os 53 milhões de milhões de dólares poderiam estar a ser avaliados por baixo. Mais, nenhum dos custos de longo prazo associados com as guerras no Iraque e no Afeganistão são considerados em quaisquer dos números apresentados (pensamos que estejam para além dos 2 milhões de milhões de dólares mais).
2) O futuro será estabelecido com níveis de vida mais baixos. Como Lawrence Kotlikoff destacou no seu trabalho intitulado "Estão os EUA na bancarrota?" publicado na net no sítio da Reserva Federal de St. Louis, a insolvência dos EUA no mínimo exigirá alguma combinação da diminuição dos custos da Segurança Social com o aumento dos impostos. Ambos implicam menos dinheiro nos bolsos do contribuinte e, como disse anteriormente, menos dinheiro significa um nível de vida mais baixo.
3) Todos os governos que tiveram de enfrentar esta situação optaram por "estabelecer a sua forma de sair do problema". Isto é um facto histórico e o nosso país não apresenta nenhum indicador, infelizmente, de possuir uma marca indiscutível de coragem política necessária para tomar um caminho diferente. Em termos simples isto significa você & eu enfrentaremos um futuro de inflação incomodamente elevada, possivelmente de hiperinflação se o dólar dos EUA perder nalgum ponto desse caminho a sua posição de moeda de reserva internacional.
Claro que é impossível estabelecer a nossa forma de sair desta situação difícil, porque imprimir dinheiro é o mesmo que criar inflação, e portanto, fazer recair sobre todos um "imposto encoberto". Faça a seguinte avaliação: qual é a diferença em ter metade de seu dinheiro directamente levado (através de impostos) pelo governo, ou ter metade desse seu valor desaparecido devido à inflação? Nenhuma. Excepto que a primeira é um suicídio político, enquanto que a segunda nunca é discutida convenientemente pela imprensa económica de referência dos EUA (por alguma razão), e portanto não vai ser percebida pela maioria das pessoas, como o resultado completamente previsível dos gastos deficitários. O que se conseguirá na realidade com tudo o que se estabelecer para resolver este problema, é serem preservados alguns empregos em Washington, e serem dizimadas a classe média e a classe baixa.
Em resumo, gostaria de saber quanto tempo mais poderemos nós fingir que este problema não existe. Quanto tempo poderemos nós continuar a comprar acções e casas sob hipoteca, esquecendo-nos de poupar, continuando o aumento sem fim da dívida, a importar produtos chineses, e a exportar dívida? Estas actividades terão alguma utilidade quando existe uma avalanche económica que se aproxima de nós?
Infelizmente não sou suficientemente inteligente para conhecer a resposta. Eu só sei que ter a esperança de que um problema tão significativo e de tão grande dimensão como este desapareça não é uma estratégia ganhadora.
Sei que nós, como nação, devemos, a nós mesmos, promover uma dura discussão, tão imediata quanto possível, sobre o que pensamos acerca do nosso futuro financeiro. E eu suspeito que essa discussão terá de começar aqui mesmo, entre você e eu, porque não consigo vislumbrar sequer que a nossa actual amostra de líderes possa distinguir entre aquilo que é urgente e o que é expediente.
O que precisamos é de uma boa campanha de base à moda antiga.
Enquanto isso, não conheço qualquer maneira de alguém se proteger totalmente contra as devastações económicas resultantes das mal administradas instituições monetária e fiscal. Se servir para alguma coisa, informo que tenho investido muito em ouro e prata, e continuarei a investir até que as instituições acima mencionadas escolham confrontar "o que é" ao invés de "o que é conveniente". Isto poderia ser um investimento a muito longo prazo.
Será que está chocado?
[*] Comentarista americano, politicamente conservador.
O original encontra-se em http://drmss.com/wordpress/?p=17.
por Chris Martenson [*]
Os EUA estão insolventes. Simplesmente não existe forma de as contas nacionais poderem ser pagas de acordo com os actuais níveis de tributação e de benefícios prometidos. Actualmente, os nossos défices federais combinados são superiores a 400% do PIB.
Esta é a conclusão de um recente relatório do Tesouro intitulado Relatório Financeiro do Governo de Estados Unidos (Financial Report of the United States Government), que foi silenciosamente divulgado numa sexta-feira (15/12/2006), submergido na temporada de férias, e com pouca fanfarra. Por vezes pergunto a mim próprio porque o Departamento do Tesouro não paga simplesmente a alguém para distribuir o relatório pelas quatro e meia da manhã de Natal. Acrescento que tenho ainda de apresentar uma simples conclusão deste relatório em uma qualquer das principais emissoras noticiosas, mas isso é outro assunto.
Mas, claro, eu percebo. Um relatório assim tão mau precisa de tudo o que possa amortecer o seu impacto.
Na sua declaração que acompanha o relatório , David Walker, inspector (comptroller) dos EUA, aqueceu a sua audiência ao declarar que o General Accounting Office (GAO) havia encontrado tantas deficiências significativas no sistema contabilístico governamental que não lhe fora possível "exprimir uma opinião" sobre o estado financeiro. Ah, ah! Ele realmente sabe como manipular uma audiência!
Em linguagem contabilística é o mesmo que dizer ao seu cônjuge "O nosso livro de cheques está numa tal bagunça que não consigo dizer se estamos falidos ou ricos!". Da próxima vez que você tiver uma inexplicável explosão de saques da sua conta, desde aquela pescaria com os seus amigos, diga-lhe apenas que você não pode "expressar uma opinião", e veja se isso cola. Vamos ver se isso funciona!
Então Walker deu as notícias realmente más:
Apesar da melhoria dos custos líquidos operacionais do ano fiscal de 2006, e do défice orçamental, o total das responsabilidades referidas pelo governo norte-americano, compromissos líquidos da segurança social e outros compromissos fiscais, continua a aumentar, totalizando agora aproximadamente 50 milhões de milhões (trillion) de dólares, representando cerca de quatro vezes a produção total do país (PIB) no ano fiscal de 2006, compromissos esses que foram de 20 milhões de milhões de dólares em 2000, ou seja, duas vezes o PIB desse ano fiscal.
Enquanto este desequilíbrio fiscal de longo prazo continua a crescer, as reformas da geração "baby boom" estão cada vez mais próximas, com a primeira onda de "boomers" a atingir a reforma antecipada da Segurança Social já em 2008.
Tendo em conta estes e outros factores, parece evidente que a actual trajectória fiscal da nação é insustentável, e que são necessárias medidas impopulares a serem definidas pelo Presidente e pelo Congresso, para corrigir o grande e crescente desequilíbrio fiscal de longo prazo do país.
Boa! Eu sei que ultimamente David Walker tem falado muito sobre a sua preocupação acerca do nosso futuro económico, mas parece quase impossível ignorar as implicações destas suas declarações. De 20 milhões de milhões de dólares de compromissos fiscais em 2000, para mais de 50 milhões de milhões de dólares em apenas seis anos? O que faremos nós quando dispararmos para…100 milhões de milhões de dólares?
E acerca do facto daqueles "boomers" começarem a aposentar-se em 2008...que parece estar muuuuito para lá no futuro? Porém, logo após o 1º de Janeiro começamos a referirmo-nos a 2008 como o "próximo ano", em vez de um qualquer "ponto num futuro demasiado distante para nos preocuparmos agora" . Os nossos problemas económicos precisam ser classificados como crescentes, iminentes, e insustentáveis.
E permitam que clarifique alguns aspectos. Os 53 milhões de milhões de dólares de défice são expressos como "valor actual líquido". Isso significa que para fazer desaparecer o défice, teríamos de ter aquela quantia de dinheiro no banco... hoje, a render juros (o GAO usa 5,7% e 5,8% como taxa de rentabilidade previsível a longo prazo). Volto a dizer: 53 milhões de milhões de dólares, no banco, hoje. Caramba, eu nem sequer faço ideia do que é 1 milhão de milhões de dólares quanto mais 53 vezes isso.
E no próximo ano teríamos que pôr ainda mais dinheiro nesta conta mítica, simplesmente porque não é possível obter juros de dinheiro que não depositámos este ano nessa conta bancária. Para que saibamos, 5.7% sobre 53milhões de milhões de dólares representam um pouco mais de 3 milhões de milhões de dólares. Assim se pode constatar como, relativamente a este aspecto, a matemática está a trabalhar contra nós. Isto significa que o défice aumentará pelo menos outros 3 milhões de milhões de dólares, mais alguns outros défices que o governo possa acrescentar entretanto. Sendo assim, considere mais 4 milhões de milhões de dólares como uma previsão para o ano que vem.
Dado a forma cuidada como este tema tem sido evitado pela nossa nação com o controlo do que tem vindo a luz nos principais média e durante a última campanha eleitoral, sinto-me por vezes como se vivesse numa pequena cidade de montanha que decidiu ignorar uma avalanche que já vem por aí abaixo, para garantir a venda anual de ski à classe infantil.
O Departamento do Tesouro minimizou tudo o que dizia respeito ao gigantesco e insustentável défice, mas no relatório do último ano já fizeram uma abordagem bastante diferente. Página 10 do relatório:
As responsabilidades líquidas da segurança social (benefícios que excedem os ingressos estimados) indicam que aqueles programas estão numa trajectória fiscal insustentável e serão necessárias tomar medidas difíceis para fazer face ao seu enorme e crescente desequilíbrio fiscal de longo prazo.
Atrasar a aplicação de medidas correctivas será dispendioso e as decisões serão mais difíceis de tomar à medida em que se for tornando real a proximidade da aposentação da geração "baby boom", com a primeira onda de "boomers" a atingir a idade de reforma da Segurança Social em 2008.
Não sei como isto poderia ter sido exposto de forma mais clara. O Departamento do Tesouro dos EUA emitiu um relatório público advertindo que estamos num caminho insustentável e que enfrentamos medidas difíceis, que serão tão mais dispendiosas quanto mais demorarmos a decidir.
Talvez a razão, que possibilitou que as obrigações e o dólar dos EUA se tivessem aguentado tão bem, é que nós somos de longe os únicos nesta situação. Num recente artigo detalhando as razões de vir a acontecer uma possível perda de valor da libra esterlina do Reino Unido, podemos ler esta terrível evidência:
Oficialmente, (o Reino Unido) a dívida líquida do sector público está em 486,7 mil milhões de libras. Isso é igual a 953,9 mil milhões de dólares e representa um pouco menos de 38% do PIB. Acrescentando porém, a dívida do estado "fora do balanço" – que inclui as pensões dos funcionários do estado – o total atinge um valor quase três vezes mais elevado. Uma pesquisa do Centro de Estudos Políticos em Londres conclui que isto poderia levar a dívida do Reino Unido a atingir o valor surpreendente de 103% do PIB.
Porém, se fizermos os mesmos cálculos para os EUA, descobrimos que a dívida oficial está em 8.507 mil milhões de dólares, ou seja, 65% do PIB (nominal), mas quando somamos os items que temos "fora do balanço", concluímos que a dívida interna se encontra nos 53 milhões de milhões de dólares, o que representa 403% do PIB.
Mas é algo verdadeiramente terrível, surpreendente. Pode-se classificar isto como se quiser. Mais de quatrocentos por cento do PIB (!). E apenas ao nível federal. Com facilidade poderíamos tornar esta história um pouco mais fúnebre se incluíssemos os défices estatais, municipais e corporativos. Mas não façamos essas contas.
Vejamos o que significa em termos simples o défice federal:
1) Não existe qualquer maneira de "superar este problema". O que ressalta disto é que a situação financeira dos EUA deteriorou-se em mais de 22 milhões de milhões de dólares em apenas quatro anos, e 4,5 mil milhões só nos últimos doze meses (ver o quadro abaixo, da página 10 do relatório). O problema não "melhorou" como resultado do excelente crescimento económico verificado nos últimos três anos, mas muito pelo contrário, piorou e aparentemente está aceleradamente a piorar.
Qualquer enfraquecimento económico só exacerbará o problema. Não nos devemos esquecer que os pressupostos orçamentais do governo dos EUA apontam para um crescimento nominal do PIB de 5% ao ano, pelo menos até 2011. Por outras palavras, porque não se considera qualquer fraqueza económica em nenhuma das projecções deficitárias apresentadas, os 53 milhões de milhões de dólares poderiam estar a ser avaliados por baixo. Mais, nenhum dos custos de longo prazo associados com as guerras no Iraque e no Afeganistão são considerados em quaisquer dos números apresentados (pensamos que estejam para além dos 2 milhões de milhões de dólares mais).
2) O futuro será estabelecido com níveis de vida mais baixos. Como Lawrence Kotlikoff destacou no seu trabalho intitulado "Estão os EUA na bancarrota?" publicado na net no sítio da Reserva Federal de St. Louis, a insolvência dos EUA no mínimo exigirá alguma combinação da diminuição dos custos da Segurança Social com o aumento dos impostos. Ambos implicam menos dinheiro nos bolsos do contribuinte e, como disse anteriormente, menos dinheiro significa um nível de vida mais baixo.
3) Todos os governos que tiveram de enfrentar esta situação optaram por "estabelecer a sua forma de sair do problema". Isto é um facto histórico e o nosso país não apresenta nenhum indicador, infelizmente, de possuir uma marca indiscutível de coragem política necessária para tomar um caminho diferente. Em termos simples isto significa você & eu enfrentaremos um futuro de inflação incomodamente elevada, possivelmente de hiperinflação se o dólar dos EUA perder nalgum ponto desse caminho a sua posição de moeda de reserva internacional.
Claro que é impossível estabelecer a nossa forma de sair desta situação difícil, porque imprimir dinheiro é o mesmo que criar inflação, e portanto, fazer recair sobre todos um "imposto encoberto". Faça a seguinte avaliação: qual é a diferença em ter metade de seu dinheiro directamente levado (através de impostos) pelo governo, ou ter metade desse seu valor desaparecido devido à inflação? Nenhuma. Excepto que a primeira é um suicídio político, enquanto que a segunda nunca é discutida convenientemente pela imprensa económica de referência dos EUA (por alguma razão), e portanto não vai ser percebida pela maioria das pessoas, como o resultado completamente previsível dos gastos deficitários. O que se conseguirá na realidade com tudo o que se estabelecer para resolver este problema, é serem preservados alguns empregos em Washington, e serem dizimadas a classe média e a classe baixa.
Em resumo, gostaria de saber quanto tempo mais poderemos nós fingir que este problema não existe. Quanto tempo poderemos nós continuar a comprar acções e casas sob hipoteca, esquecendo-nos de poupar, continuando o aumento sem fim da dívida, a importar produtos chineses, e a exportar dívida? Estas actividades terão alguma utilidade quando existe uma avalanche económica que se aproxima de nós?
Infelizmente não sou suficientemente inteligente para conhecer a resposta. Eu só sei que ter a esperança de que um problema tão significativo e de tão grande dimensão como este desapareça não é uma estratégia ganhadora.
Sei que nós, como nação, devemos, a nós mesmos, promover uma dura discussão, tão imediata quanto possível, sobre o que pensamos acerca do nosso futuro financeiro. E eu suspeito que essa discussão terá de começar aqui mesmo, entre você e eu, porque não consigo vislumbrar sequer que a nossa actual amostra de líderes possa distinguir entre aquilo que é urgente e o que é expediente.
O que precisamos é de uma boa campanha de base à moda antiga.
Enquanto isso, não conheço qualquer maneira de alguém se proteger totalmente contra as devastações económicas resultantes das mal administradas instituições monetária e fiscal. Se servir para alguma coisa, informo que tenho investido muito em ouro e prata, e continuarei a investir até que as instituições acima mencionadas escolham confrontar "o que é" ao invés de "o que é conveniente". Isto poderia ser um investimento a muito longo prazo.
Será que está chocado?
[*] Comentarista americano, politicamente conservador.
O original encontra-se em http://drmss.com/wordpress/?p=17.
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